Sobre amar as imperfeições da vida

Anda muito na moda falar sobre aceitação, especialmente quando o assunto é beleza. Porém, tão raro quanto encontrar pessoas satisfeitas com seu físico (talvez isso seja até mais fácil) é conhecer alguém que acolha suas dificuldades e limitações, sejam elas de ordem social, emocional ou material: relacionamentos precários, inseguranças, ansiedade, doenças, pobreza e por aí vai.

E por que alguém iria apreciar todos esses “problemas”, não é mesmo? É super compreensível a dificuldade de acolher essas dificuldades, já que nos sentimos cobrados para desempenhar um papel social dentro dos padrões considerados de sucesso por nossa sociedade. O que muita gente esquece, no entanto, é que grandes personalidades que alcançaram reconhecimento e fizeram história foram justamente aquelas que não tiveram medo de abraçar as suas dores e limitações.

O que dizer do cientista Stephen Hawkins, por exemplo? Tá bom, eu sei que ele é um gênio e um caso à parte, mas posso citar Eduardo Lyra, jovem líder inspirador da atualidade (que não deixa de ser brilhante também) ex-morador de uma favelado do Rio, hoje escritor e empreendedor social, fez de sua maior dificuldade o seu maior triunfo: a luta contra a pobreza e a miséria humana. Assim como também poderia falar de Marylin Monroe, que era considerada fora dos padrões de beleza da época (acreditem ou não), ou mesmo Maria da Penha, que não teve medo de mostrar para o mundo que apanhava do marido, entre outras inúmeras pessoas, famosas ou não, que fizeram a diferença por onde passaram pela simples capacidade de reconhecer e aceitar a condição na qual se encontravam.

Quanto mais assumimos nossas sombras, mais humanos nos tornamos e, com isso, há uma grande capacidade de gerar empatia em outras pessoas. Muitas vezes pensamos justamente o oposto, que expor certas dificuldades irá nos levar a ridicularização. Isso até acontece, mas geralmente é porque a pessoa tem vergonha de ser o que é e ainda não aprendeu a enxergar suas dificuldades por um ângulo mais instrutivo, por isso acaba potencializando o que considera ruim, tornando-se escravo de sua própria auto-condenação.

Que fique claro que não sou a favor de “coitadismos” ou que devemos nos conformar e não querer melhorar uma situação desagradável. Apenas acredito que encarar as nossas sombras e dificuldades circunstanciais de uma forma mais leve e amorosa pode mudar completamente a nossa realidade.

Eu mesma tive inúmeras dificuldades por ser tímida, principalmente para falar em público, por ter uma carinha de sono, ser meio lenta pra entender certas coisas, fato que me rendeu um certo bullying na escola (mas quem se importa, eu nunca percebia mesmo haha). Já me senti muito mal com isso, mas hoje acho até engraçado, fez parte da minha história, do meu jeito de ser e está tudo bem.

Quando não aceitamos certas características nossas, a primeira coisa que começamos a fazer é desenvolver uma revolta com a vida e partimos à caça aos culpados e, quando não os encontramos, a culpa se volta pra nós mesmos, é claro. E nem preciso dizer que os sentimentos de culpa e vitimização são dos mais estagnadores e improdutivos que existem. Isso quando não somos doutrinados a acreditar que a culpa é do “tinhoso”, que está sempre nos tentando e perseguindo, aguardando um pequeno passo errado para que então ele possa dar o bote e nos destruir. E aí abre espaço para outro sentimento bastante perigoso e dominador – o medo.

Por outro lado, reconhecer e aceitar o nosso lado sombrio gera uma auto-confiança e amor próprio, além de uma compreensão muito maior com as falhas dos outros. Geralmente quando alguém fica extremamente indignado com um erro de outra pessoa é porque na verdade ainda não aprendeu a ser menos exigente consigo mesmo. Quando a gente não se aceita como é, também não consegue amar e compreender as dificuldades alheias. Até por que, como dizem, “o outro não existe, ele é você”. Essa frase faz muito sentido quando compreendemos isso.

Como diria Osho – “quando você segue a natureza das coisas, não existe sombra. Até a tristeza é luminosa… Ela não é mais sua inimiga. Você a acolherá pois perceberá a sua necessidade”. O que seria da luz se não fosse a escuridão, não é mesmo? Não que a luz dependa da sombra para existir, mas ela é um indicativo de que há sempre uma outra possibilidade, totalmente oposta a ela, a nossa espera.

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